terça-feira, 19 de maio de 2009

O vale da miséria

O Vale do Jequitinhonha que ainda é chamado de vale da miséria começa a ser conhecido como vale da esperança.
O título vale da miséria foi dado ao Vale do Jequitinhonha no ano de 1974 pela ONU (organização das nações unidas). Alguns estudiosos disseram que a situação de pobreza no Vale piorou com a implantação de áreas de reflorestamento para a produção de carvão vegetal utilizado nas usinas siderúrgicas. Nos anos 70 o reflorestamento foi apresentado como a solução da miséria do Vale. Mas, além de não ter melhorado a situação do quadro social e econômico, a atividade provocou impactos ambientais, com prejuízos enormes e incalculáveis.

O FestiVale do Jequitinhonha

O Festivale teve suas origens em 1979 na cidade de Itaobim. Seu objetivo era dar vez e voz ao povo do Vale, sua cultura, seus sonhos e sua luta por melhores condições de vida. Ele foi promovido pelo jornal Geraes e contou com vinte e dois compositores da região. Logo todos viram que o Festivale merecia mais espaço e investimento, assim ele foi se expandindo e acontece até hoje. O Festivale de 2007 aconteceu em Joaíma e completou 25 anos de existência com muito esforço e dedicação de um povo tão sofrido.Hoje o festivale acontece todo ano em uma cidade diferente e reúne diversos artistas de vários lugares diferentes. Álem de apresentar diversos eventos de literatura, teatro, dança, folclore e artes plasticas.

Todo ano também acontecem oficinas profissionalizantes isto é, várias pessoas se juntam e dão oficinas que ajudam no trabalho das pessoas .
O nome Jequitinhonha, que dá nome ao principal rio que banha a região, segundo reza a lenda, originou-se dos índios que habitavam a região: "jequi", armadilha em forma de um "puça" usada para pegar peixe, que também era chamado de onhas. O índio armava o jequi no rio ao entardecer e na manhã seguinte o pai falava para o filho: "vai menino, vai ver se no jequi tem onha". Uma alusão a essa lenda é lembrada nos versos da música “No Jequi tem onha” do poeta Gonzaga Medeiros.
“Conta, canta contador,
Conta a história que eu pedi
Dizem que o Jequi tem onha,
Conta as onhas do jequi”.

CÊRAMICA DO VALE DO JEQUITINHONHA


O Vale do Jequitinhonha situa-se no Norte do Estado de Minas Gerais - MG, sendo banhado pelo rio Jequitinhonha e seus afluentes, tem uma população de aproximadamente 1 milhão de pessoas e é considerada uma das regiões mais pobres do Brasil.

A maior parte do solo é árido sendo castigado regularmente por secas e enchentes. 75% de sua população vive numa área rural praticando agricultura e pecuária.

Os mais ceramistas são: Isabel Mendes da Cunha; João Pereira de Andrade; Glória Maria; Ulisses Pereira Chaves; Noemísa Batista da Silva; Raimunda da Silva (D. Mundinha); João Alves e Dona Pedra.

No Vale produz-se um excelente e criativo artesanato em: Cerâmica, tecelagem, cestaria, esculturas em madeira, trabalhos em couro, bordados, pintura, desenho e música.

Os trabalhos com barro no Vale iniciaram-se com a confecção de peças utilitárias que eram feitas pelas mulheres chamadas de paneleiras. A tradição manteve-se através das gerações - bisavós, avós, mães e filhas. Fazem moringas, vasilhas, panelas, potes etc, tudo com uma marcante influência indígena. Com o passar do tempo passaram a produzir peças decorativas “de enfeite” como dizem. Figuras humanas, animais, cenas do cotidiano, tipos, usos e costumes da região.

No processo usam rudimentares fornos a lenha, a técnica dos roletes (cobrinhas), ao invés do torno de oleiro, placas e toscas ferramentas. Os pigmentos usados na decoração (pinturas) são naturais extraídos dos barros encontrados nas

muitas jazidas de argila da região.

Os pigmentos usados na decoração são naturais, extraídos de barro, encontrados nas diversas jazidas de argila da região. Na técnica usada para fazer a cerâmica, usa-se o forno a lenha.


No processo, usam rudimentares fornos a lenha, a técnica dos roletes (cobrinhas), ao invés do torno de oleiro, placas e toscas ferramentas.


A grande melhoria na vida dos artesãos, ocorreu na década de 70, com a criação da CODEVALE - Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha. A entidade recolhia a produção dos artistas e revendia os produtos, principalmente em Belo Horizonte. Esta atuação oficial incentivou bastante o artesanato, trazendo uma significativa melhor no nível de vida dos moradores.

No Vale do Jequitinhonha, produz-se um excelente e criativo artesanato em Cerâmica, Tecelagem, Cestaria, Esculturas em Madeira, Trabalhos em Couro, Bordados,Pintura,Desenho,Música.

Os principais pólos das atividades de cerâmica são as cidades: Itinga, Araçuaí, Santana do Araçuaí, Turmalina, Caraí, Itaobim, Taiobeiras, Padre Paraíso, Joaíma e Minas Novas.

Os trabalhos no Vale iniciaram-se com a confecção de peças utilitárias que eram feitas pelas mulheres chamadas de paneleiras. A tradição manteve-se através das gerações: bisavós, avós, mães e filhas. Fazem moringas, vasilhas, panelas, potes etc. Tudo com uma marcante influência indígena. Produziam também figuras para adornar Presépios e brinquedos utilizados pelas crianças.

Com o passar do tempo, passaram a produzir peças decorativas “de enfeite” : figuras humanas, animais, cenas do cotidiano, tipos, usos e costumes da região.

COMO É FEITA A CERÂMICA

Os materiais argilosos apresentam grande variedade de tipos e composições.

O barro é coletado na beira de córregos ou lugares úmidos. Os índios falam que, quando o arco íris aparece por cima do Igarapé, nas suas extremidades se acha argila boa para fazer cerâmica. As mulheres transportam argila em cestas e guardam em baixo de um jirau, coberta com folha de bananeira.

Todo barro, antes de ser utilizado, é amassado e examinado para constatar sua pureza, consistência e umidade. A textura é obtida com o acréscimo da cinza (pó) da casca do pau caripé. Estas cascas são queimadas e trituradas num grande cocho (vasilha feita de um tronco de árvore cavado). As cinzas são colocadas na argila e molha-se a mistura de pó com argila. Esta massa é amassada com as mãos, acrescentado mais cinza e água. O processo continua até que a cinza desapareça totalmente da massa e esta tenha a textura ideal. Para saber se já está boa para usar faz o seguinte: prova-se a massa para constatar se ainda está bem preta , está pronta para ser utilizada.

A massa repousa sempre sobre as folhas de bananeira. A ceramista amassa uma quantidade dela para fazer a base da vasilha ou seja, o fundo do vaso.

O alisamento preliminar do vaso, feito com os dedos, começa quando uma boa parte do vaso está pronta. O alisamento final se faz com um pedaço de cabaça ovalada.

O alisador é molhado com saliva ou água. O alisamento interno e externo se faz no sentido horizontal. Inicia-se na parte superior interno e termina na base.

Quando a peça está quase seca, passa a ser polida com um coco de jarina e é posta diretamente ao sol. Coco de jarina é um tipo de palmeira baixa amazônica.

Para queimar o vasilhame, a fogueira é disposta da seguinte maneira: uma camada de lenha; uma de um determinado tipo de pau; as vasilhas; e mais uma camada de casca, cobrindo todas as vasilhas.

As vasilhas ficam uma hora e meia queimando o tempo da fogueira apagar.

Logo depois, pintam, ou seja, colocam pigmentos na cerâmica. E os pigmentos são todos naturais retirados do barro feito à cerâmica antes de queimar o barro.

VENDA DOS PRODUTOS

O dia de vendas é sempre especial para os artesãos que habitam a Fazenda Campo Alegre, às margens do rio Fanado, a 21 km da cidade de Turmalina. Em sua maioria, as mulheres. Os artesãos e seus filhos saem de suas cabanas nas grotas, carregando vasos, potes, moringas, cestas, jarras,“galinhas”,“bonecas”, “pássaros”, “bois”, “sereias”, “igrejas”.

Pelos morros, veredas e ladeiras chegam equilibrando na cabeça, suas mercadorias, até uma área de chão batido, ode expõe as peças. O terreiro fica enfeitado, preparado para a transação comercial, que pode arrastar-se por um dia inteiro. É grande a variedade de formas, de combinações entre a cerâmica utilitária e a ornamental, entre homens e bichos, animais e vegetais (galinhas com pés no formato de bolas, jarros e potes ornamentados com flores e alças, moringas com forma de pássaros, bois e homens, moringas com quatro cabeças laterais voltadas para um pássaro que fica em cima, ao centro, sereias de vários tamanhos e cores, etc).


Fonte: http://www.artdbrasil.com.br/com_12.asp

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Uma história contada no barro – exposição de cerâmica do Vale do Jequitinhonha



A expectativa que temos com relação à exposição “Uma história contada no barro – exposição de cerâmica do Vale do Jequitinhonha” é que possamos revisitar um espaço afetivo a partir das possibilidades do olhar sobre a cerâmica do Vale do Jequitinhonha. Essa cerâmica, que é uma obra única e que reflete a cultura da resistência de um povo, tradicionalmente tem se mostrado, ano a ano, renovadora em suas proposições estéticas, culturais e históricas. Hoje, esse trabalho se tornou uma referência de um artesanato refinado e original reconhecido internacionalmente.

Nessa mostra as obras foram selecionadas a partir de um acervo pertencente ao Museu de História Natural e Jardim Botânico e outro proveniente da Escola de Belas Artes da UFMG, coleções que foram constituídas em meados da década de 70. Essa característica confere a esse acervo um valor histórico diferenciado, por ser uma forma de registro ainda embrionário dessa arte nos seus primórdios. Guarda ainda mais, por sua originalidade, uma relação intima e pura com esse povo, justamente por marcar o início destas manifestações artísticas naquela região. São peças únicas e extremamente curiosas produzidas com a técnica rudimentar do engobe, que é a coloração das pecas a partir da utilização da argila com suas cores diferenciadas.

Como a criança que brinca de contar estórias, as peças vão sendo agrupadas por temas específicos que propõe uma sensibilização para que essas estórias aconteçam no pensamento de cada um que as observa. Teremos salas com cenas do casamento, salas da flora e da fauna, das relações naturais, do estranhamento das relações antropozoomórficas - um misto de homens e animais, da arquitetura, dos costumes de vida e dos objetos utilitários.

Com essa forma diferenciada do olhar, diferentemente do ver, por ser carregado de sentimento, propomos a todos um retorno à nossa infância. Um recriar de sonhos povoados por mitos e de fantasmas imagéticos, para que, no coração de cada um de nós, possamos recontar essas estórias sugeridas no barro por um povo feliz.

Fabrício Fernandino
Curador da exposição



A Mestiçagem Cultural no Vale do Jequitinhonha para alunos do Ensino Fundamental

Daniel Barbo, professor de história do fundamental

Um mundo novo, colorido, vibrante e multifacetado descortina-se com a História Cultural. Há alguns anos, o campo renovou-se, ainda mais, com a abordagem do historiador francês Serge Gruzinski, com obras do calibre de A Colonização do Imaginário, A Guerra das Imagens: de Cristóvão Colombo a Blade Runner, O Pensamento Mestiço e As Quatro Partes do Mundo. A Mestiçagem Cultural é a tônica destas obras.

Dentro do que podemos chamar História de Minas, o Vale do Jequitinhonha presta-se, de forma muito adequada, a uma abordagem sob esta perspectiva de Gruzinski, isto é, uma História Cultural do Vale do Jequitinhonha, tendo como escopo a sua mestiçagem cultural. Esta seara é, salvo engano, completamente virgem e carece ainda de figurar nos anais da historiografia da cultura brasileira.

No primeiro trimestre de 2008, na Coopen, programou-se uma viagem para o Vale e, para tanto, projetos com a incumbência de ler a sua gramática sócio-econômico-cultural: Economia Solidária, Auto-sustentanbilidade e... Mestiçagem Cultural. A idéia geral era remeter os alunos a toda essa gama nova de conhecimentos que entrelaça sociedade, cultura, economia e meio ambiente. Para mim, foi o ensejo para empreender um ponta pé inicial no sentido de preencher a lacuna na História do Vale, o que renderá um artigo sobre o assunto, antecipadamente intitulado "A Mestiçagem Cultural na cerâmica do Vale do Jequitinhonha", previsto para ser escrito em 2009.

Dentre os projetos propostos, o de História, intitulado "História Cultural do Vale do Jequitinhonha", fez um estudo da História de Minas, tendo como enfoque as questões sociais, políticas e culturais dessa região do Estado. Analisamos a história da região a partir do seu surgimento no Brasil Colônia (séculos XVII e XVIII) no contexto da exploração mineradora (ouro, diamante, etc.), passando pela história do Brasil Império (século XIX) e chegando ao Brasil República (a partir de 1889), identificando o coronelismo, o latifúndio, a indústria da seca e as constantes diásporas, o que criou a pobreza, o desmatamento e a infertilidade do solo, bem como o fenômeno muito particular das "viúvas de maridos vivos". Neste processo histórico, compreendemos como uma região tão rica, cobiçada e explorada pela Coroa Portuguesa tornou-se, por um lado, uma das regiões mais pobres em termos de IDH ao longo da República brasileira e, por outro, conso lidou uma cultura própria muito rica, mas ainda bem desconhecida pelos brasileiros e não contemplada ainda pela nova abordagem da História Cultural. Em todo este processo histórico de pelo menos três séculos, percebemos o desenvolvimento de uma cultura mestiça no Vale do Jequitinhonha. A região, no período pré-cabralino, era habitada por tribos indígenas. Os Bandeirantes, na caça do ouro e diamantes, introduziram na região um sertanejo já mestiço. A escravidão do negro africano acrescenta uma terceira etnia. Daí, a efervescente mestiçagem étnica e cultural que remonta até a Mitologia Grega. Enfocamos a rica produção da cerâmica jequitinhonhense, a qual funde cultura indígena, africana e européia e na qual se condensa política, sociedade, economia, costumes, experiências, práticas culturais e mitologias.

O contato dos alunos do Ensino Fundamental com a produção ceramista do Vale prodigalizou uma análise iconográfica e iconológica que desvelou a seus olhos, corações e mentes o fulgor de uma nova realidade humana e uma nova possibilidade de pensar e associar arte, cultura, sociedade, meio ambiente, economia, solidariedade e sustentabilidade, num mundo já em pânico com sua autodestruição.